Em algum momento da trajetória acadêmica, todo pesquisador enfrenta um hiato na escrita. Às vezes por causa da rotina intensa, outras por falta de motivação, ou simplesmente porque a vida acontece.

Mas aqui vai um lembrete importante: parar não é fracassar — é humano.

O verdadeiro desafio não está em ter feito uma pausa, e sim em acreditar que depois dela é tarde demais para recomeçar.

Na escrita científica, isso é ainda mais comum. Com tantas demandas — experimentos, análises, revisões, prazos —, o texto costuma ficar em segundo plano. Quando chega a hora de voltar, o bloqueio parece ainda maior. É nesse momento que muitos duvidam da própria capacidade de retomar o ritmo.

Recomeçar não é voltar ao ponto onde você parou

Ao retomar a escrita, é natural querer “continuar de onde parou”. Mas, na prática, o recomeço não é uma volta — é uma continuação com mais bagagem.

Durante a pausa, você leu novos artigos, amadureceu ideias, acumulou experiências e olhares diferentes sobre o seu trabalho. Tudo isso faz de você um pesquisador mais preparado do que aquele que escreveu a última frase.

Por isso, em vez de tentar reproduzir o ritmo anterior, use esse novo começo como uma oportunidade de reavaliar seu caminho. Releia seus objetivos, reconecte-se com o propósito da pesquisa e descubra o que realmente faz sentido agora.

Pequenos passos valem mais do que grandes planos

Um erro comum de quem tenta retomar a escrita é querer compensar o tempo “perdido” com longas jornadas de trabalho. Mas a verdade é que recomeçar exige leveza, não cobrança. Mais do que disciplina, você precisa de constância — e isso se constrói com pequenos passos.

Comece com 15 minutos por dia, um parágrafo, uma ideia. Use marcadores como [inserir citação aqui] ou [expandir depois] para não travar nos detalhes (conforme discutido neste artigo). O importante é seguir escrevendo, mesmo que o texto ainda não pareça perfeito. O aperfeiçoamento vem depois — o movimento vem agora.

Recomeçar é mais sobre mentalidade do que sobre método

A escrita científica é também um exercício emocional. A culpa por não ter escrito, o medo de não estar à altura e o perfeccionismo podem ser os maiores obstáculos de quem está tentando recomeçar. Por isso, o primeiro passo é mudar a mentalidade: troque o pensamento “preciso escrever tudo” por “hoje vou dar o próximo passo”. Essa pequena mudança reduz a ansiedade e transforma o processo em algo mais sustentável.

Recomeçar é um ato de gentileza consigo mesmo — um lembrete de que o texto pode esperar, mas o desejo de continuar não deve ser abafado.

O poder dos recomeços

Cada recomeço é uma prova de comprometimento com a sua pesquisa — e com o seu crescimento como cientista. Não existe escrita contínua sem pausas. O que diferencia um pesquisador produtivo de um estagnado é a capacidade de retomar o movimento com propósito. Então, da próxima vez que se sentir travado, lembre-se:

Escrever também é recomeçar.

E cada vez que você decide voltar, o texto e o pesquisador que o escreve ficam mais fortes.


Silvana B. Marchioro